Gonzaga – De pai para filho
Direção: Breno Silveira
Ano de produção: 2012
Com: Chambinho do Acordeon, Julio
Andrade, Nanda Costa, Adélio Lima, Land Vieira, Alison Santos, Giancarlo Di
Tommaso, Cecília Dassi.
Gênero: Drama
Classificação Etária: 14 Anos
Nota: 9,0
“Gonzaga” dá uma nova esperança ao atual cinema nacional
O Luiz Gonzaga foi uma das personalidades mais
emblemáticas, polêmicas e marcantes do país. Sua história é tão surpreendente
que não poderia ter sido inventada e era inevitável que ela fosse transportada
para o cinema. Mas “Gonzaga – De pai para filho” não é bem uma cine-biografia
do rei do baião, como ele era conhecido, mas um forte e intenso conflito de
gerações Luiz Gonzaga, o pai, e Gonzaguinha, o filho. A história dos dois e,
fundamentalmente, a divergência e a magia do filho para com o pai é sublime. E
quanto menos se sabe, mais interessante fica.
“Gonzaga” se passa, de início, na cidade de Exu, no
sertão do Estado do Pernambuco, no ano de 1981, onde Gonzaguinha vai à esta
cidade conhecer melhor seu pai, Luiz Gonzaga, para, então, se aproximar dele.
Seu pai decide contar sua história de vida para, então, ver se o filho
compreende as razões de seu abandono durante a sua vida. Daí somos
transportados para o ano de 1929, na mesma cidade de Exu, quando Gonzaga era
ainda um adolescente cheio de sonhos e idealista. Ele tem uma paixão proibida
(é apaixonado pela filha do coronel), tem uma profunda admiração por Lampião
(fato que o filme, infelizmente, não abordou muito) e aprende a tocar sanfona
com seu pai, Januário. Após um conflito com o coronel, Gonzaga foge da cidade e
vai de pau-de-arara à Fortaleza, para tentar ganhar a vida, mas ele vai parar
no exército. Mesmo passando 10 anos por lá, ele cumpre uma promessa que fez ao
seu pai e não dá um só tiro, mesmo com os conflitos da época, como a Revolução
de 1930, ele sempre dava um jeito de escapar dos campos de batalha. Após a
baixa no exército, Gonzaga decide tentar a sorte na grande metrópole brasileira
da época, o Rio de Janeiro, que seria a sua “casa”.
O início é extremamente difícil, já que Gonzaga mal sabia
ler e não tinha experiência nenhuma na cidade grande, mas de pouco e pouco ele
vai conseguindo conquistar a noite carioca, principalmente quando ele decide
tocar as músicas raízes do Pernambuco.
Em uma das noites, ele freqüenta um certo baile (onde ele
se torna cliente) e conhece a doce Odiléia (vivida por Nanda Costa,
surpreendentemente, ótima no papel, bem diferente de seu papel fraco na novela
“Salve Jorge”), que logo se tornaria sua esposa e mãe de Gonzaguinha. Gonzaga é
bom para Odiléia, mas com sua experiência de vida com o mundo do sertão e dos
coronéis, ele acha que a mulher é sempre submissa, tornando as brigas de casal
freqüentes. Odiléia começa, porém, a apresentar crises de Tuberculose, onde é
internada e morre no hospital.
Nesse meio tempo, Gonzaga se torna um sucesso absoluto e
se torna o “Rei do Baião”, vendendo milhões de discos por todo o Brasil e
faturando milhões.
Não contarei a história inteira, obviamente, mas o filme
também foca no segundo casamento de Gonzaga, com Helena, e o crescimento de Gonzaguinha,
passando pela ausência de seu pai, a rebeldia adolescente, o colégio interno e
sua mente ideológica, sobretudo durante o período militar (aliás, Gonzaguinha
ficou famoso pelas suas músicas de protesto).
O filme tem muitas, muitas qualidades. Começando pela
escolha do elenco, os atores se parecem física e psicologicamente com as
personagens que interpretaram. A direção de arte é competente e é uma bela
reconstrução da época. E o diretor Breno Silveira retoma sua maior virtude: a
de fazer uma reflexão do conflito de gerações entre pai e filho, que fez muito
bem em “À Beira do Caminho” e principalmente no mega-sucesso “Dois Filhos de
Francisco”, coisa que ele parece que esqueceu em “Era Uma Vez” – que nem merece
ser lembrado.
Mas principalmente, “Gonzaga – de pai para filho” e um
alívio em se tratando de cinema brasileiro. A fase atual do nosso cinema é, no
meu conceito, um desastre. De alguns anos para cá, só fazem comédias de muita
apelação e de péssimo gosto – é só dar uma olhada nas últimas melhores
bilheterias, como “E Aí, Comeu” e “Cilada.com”, se o intuito é competir com as
comédias hollywoodianas, o tiro está saindo pela culatra, mas “Gonzaga” volta
às raízes e origens do que o nosso cinema é, e sempre foi, de senso crítico,
político e corajoso.
O filme até mereceria um conceito 10, mas os 15 minutos
finais, mais parecem que os realizadores acharam que acabou o tempo de projeção
e resolveram enxugar demais a história. Quase não dá para se envolver
emocionalmente com o que acontece, que, aliás, é o momento mais esperado do
filme, mesmo com o belíssimo final, com imagens sublimes e que merecem ficar
sempre registradas na estante de qualquer fã.
Ah, e prepare o lenço, pois o filme comove, sempre com
sutilezas, mas sempre animando com as canções de tirar o pé do chão, como “Asa
Branca”, que se tornaria o hino do nordeste e “Que Nem Jiló”, e, ouvindo essas
músicas novamente e pensando na atual fase desastrosa da música nacional, que
tal uma dança de forró para hoje à noite?
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