Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge (The Dark Knight
Rises)
Direção: Christopher Nolan
Ano de produção: 2012
Com:
Christian Bale, Tom Hardy, Anne Hathaway, Joseph Gordon-Levitt, Marion
Cotillard, Gary Oldman, Michael Caine, Morgan Freeman, Matthew Modine, Cillian
Murphy
Gênero: Ação
Classificação Etária: 14 Anos
Nota: 10
É uma grande pena e lamentação mesmo, o fato desta nova
trilogia do Batman ser marcada por tragédias. Em 2008, meses antes do
lançamento de “O Cavaleiro das Trevas”, o ator Heath Ledger, que fez
magistralmente o vilão Coringa, morreu por uma overdose. O diretor Christopher Nolan
teve muito trabalho para a distribuição do filme, em desviar a atenção do
público da tragédia para o filme em si. E conseguiu. O filme foi um sucesso
absoluto de público e crítica. Faturou mais de 1 bilhão nas bilheterias
mundiais. Heath Ledger foi mais lembrado sim, mas de forma positiva. A atenção
não estava mais em sua morte, mas em seu papel como Coringa. Todo mundo elogiou.
Foi a melhor atuação dele. Foi uma grande pena assistir ao filme e saber que
nunca mais o veria novamente. Foi impressionante ver, aos 28 anos que um ator
conseguia fazer tudo aquilo. Na minha opinião, ele estava fadado a ser um dos
grandes atores da história. Seu personagem como cowboy gay em “O Segredo de
Brokeback Mountain” foi algo totalmente espetacular, só para citar um exemplo. No
ano início do ano seguinte ele foi lembrado com mais efusão, pois era o período
das premiações e já em Janeiro de 2009, ele faturou o Globo de Ouro de Melhor
Ator Coadjuvante e no mês seguinte, levou o Oscar póstumo, algo que não acontecia
na história da Academia desde 1977, quando Peter Finch ganhou o Oscar de Melhor
Ator pelo arrebatador “Rede de Intrigas”, sendo que ele morreu dias antes do
lançamento do filme.
E agora, com a continuação, “O Cavaleiro das Trevas Ressurge”,
na semana de estreia nos Estados Unidos, um atirador invade um cinema e atira
em todo mundo que estava lá. Como se sabe, a história terminou em tragédia, em
que 12 pessoas morreram e mais de 40 ficaram feridas, incluindo uma mulher que
teve que sofrer aborto espontâneo. Foi uma grande pena mesmo e se lamenta pelas
vidas e pelo fato de que, ao contrário do que se imagina, os cinemas não têm
segurança, e aqui no Brasil, como a grande maioria das salas se encontra dentro
de shoppings centers, tanto os centros de lojas quanto os cinemas, não possuem
segurança nenhuma para os consumidores, que pagam um alto preço pelos ingressos
e pelos produtos, mas ficam totalmente vulneráveis pela falta de competência de
algumas instituições.
E mais uma vez, o diretor Christopher Nolan estava com
uma bomba nas mãos para a divulgação do filme. E mais uma vez conseguiu desviar
a atenção do público para o filme.
Batman – O Cavaleiro das Trevas Reesurge é, até o
momento, o filme mais aguardado de 2012 (a não ser, talvez, quando estrear “O
Hobbit”, no fim do ano) e, apesar de já ter lido elogios exagerados da crítica
mundial para a terceira parte do homem-morcego, eu confesso que não estava lá
animado para ver essa terceira parte. Há sempre uma desconfiança quando se tem
um filme bom demais e ele recebe uma continuação. Depois de ver “O Cavaleiro
das Trevas”, em 2008, eu achava que Christopher Nolan não tinha mais força para
realizar uma obra rica visualmente e com um roteiro inteligente. Ou pior, depois
de deixar a plateia em estado de choque com aquele que foi um dos melhores
(para muitos, o melhor) vilões da história, seria difícil imaginar um vilão à
altura do homem-morcego ou da exigência dos fãs.
Mas, ao assistir “Batman – O cavaleiro das trevas
ressurge”, que surpresa agradável. Que filme arrebatador! Não perde em nada ao
filme anterior. É até melhor em muitos aspectos. Primeiro que é um filme
grandioso. São mais de duas horas e meia de projeção. E não cansa. Sua longa
duração é só mais um aliado para o que Chris Nolan queria mostrar. Com os
milhões arrecadados em “Cavaleiro das Trevas” e “A Origem”, ele teve liberdade
total para realizar o filme como quis. Por se tratar de uma super produção, foi
inevitável algumas exigências do estúdio, mas vendo o roteiro inteligente e
político, fica claro que estamos falando de um filme de autor, algo raro nos
dias de hoje e o resultado é simplesmente devastador.
A história se passa 8 anos após os acontecimentos do
filme anterior. Depois do Batman ter aniquilado o vilão Coringa, ele fica
sumido de Gothan City, pois é tratado por todos os cidadãos como o responsável
pela morte de Harvey Dent, que, é tratado como herói por seus trabalhos quando
era prefeito no combate ao crime. Há até uma lei em seu nome, que é implacável
com os bandidos. E nisso, Gothan fica com um aparente clima de paz. Nesse meio
tempo, ninguém mais viu Bruce Wayne, a não ser seu fiel mordomo Alfred (Michael
Caine). Quando ele decide aparecer em público, porém, ele está arruinado. Seus dias
de glória eram coisa do passado. A cidade não precisa mais do Batman, que passa
a ser foragido pela polícia. Sua empresa não está mais valiosa como
antigamente, que, inclusive, a presidência da empresa fica ameaçada pela
milionária Miranda Tate (vivida pela sempre ótima e bela, Marion Cotillard). Para
piorar, a cidade começa a ser ameaçada por um mercenário muito mais forte e
inteligente do que o Batman, o incrível Bane (vivido por Tom Hardy,
irreconhecível com uma máscara), que quer provocar anarquia, caos, e está
sempre a um passo à frente do homem-morcego e de todos à sua volta. Ainda temos
a história do policial John Blake (Joseph Gordon-Levitt), que é sempre bem
intencionado e é fã do Batman, que aliás, sua história se confunde com a do
nosso herói pelo fato de Blake também ter sido órfão. E para fechar, temos a
história da charmosa ladra Selina Kyle (papel de Anne Hathaway – ótima no papel
como sempre), que é muito rápida e usa seu charme para conseguir o que quer. Ela
sempre está à frente dos próprios bandidos e usa técnicas como usar as
impressões digitais dos outros para nunca ficar com a culpa. E sequência, logo
no início, em que ela faz com que um bandido coloque, acidentalmente, suas digitais
no celular de um policial morto, é simplesmente de roer a unha.
Neste filme, Chris Nolan foi na contramão de quase todas
as super produções: enquanto todo mundo corre e abraça a nova tecnologia 3D,
Nolan preferiu filmar no formato Imax. Ele preferiu usar a grandiosidade de sua
obra sem que tudo seja jogado na tela para a plateia, para que todos pudessem
ver seu filme em uma tela gigante. Recomendo, aliás, que vejam na maior tela
que conseguirem. Depois de “A Origem”, de 2010, é impressionante como Nolan não
perde a capacidade criativa e de impressionar o espectador. E para esse
espetáculo, Chris conseguiu reunir um elenco (e que elenco!) tão grandioso
quanto suas cenas.
Bale está sempre ótimo como o homem-morcego. Enquanto nos
filmes anteriores víamos o Wayne sempre grandioso, milionário e cheio de pose,
aqui vemos um homem pobre, sem perspectiva de futuro e que vai até preso. Em uma
das sequências, ele apanha até quase morrer do vilão Bane e vai parar numa
prisão conhecida como “inferno”, que apesar de ser de uma dificuldade
inexpugnável de saída, houve a lenda de um garoto, há muito tempo atrás, de uma
menina ter saído de lá, algo que incentiva o nosso herói a escapar também. Na maior
parte do filme, aliás, Batman nem aparece como tal. Afinal, a polícia toda está
atrás dele. Em uma sequência devastadora, ele escapa de toda a polícia de
Gothan em seu novo Batmóvel.
John Blake, que, de início é apenas um coadjuvante, tem
um personagem mais interessante do que demonstra ser. Ele é cheio de boas
intenções e, em parte, é anarquista e prefere seguir sua consciência a seguir
ordens.
Gary Oldman, como o Comissário Gordon e Michael Caine,
como Alfred, sempre ótimos, e Marion Cotillard, como uma milionária aparentemente
cheia de boas intenções, acredita no desenvolvimento sustentável. Ela acredita
que é possível uma cidade crescer usando energias limpas. Isso a faz assumir a
presidência das empresas de Bruce Wayne, mas também atrai o vilão Bane, que a
obriga a retirar os reatores de um equipamento nuclear para gerar uma bomba
atômica, e assim, provocar o caos em Gothan. A personagem de Miranda Tate tem
um desfecho, no mínimo, interessante. Mas e o vilão Bane? Está simplesmente
ameaçador e devastador. Apesar de ele não ser muito famoso nos quadrinhos, ele
é mais inteligente, esperto e forte do que o homem-morcego, consegue atrair
todos os policiais da cidade para sua armadilha e os aprisiona dentro de uma
tubulação de esgoto (na melhor sequência do filme), deixando, assim, Gothan
livre para fazer o que bem entende. Em uma das entrevistas coletivas, o ator
Tom Hardy havia dito que estava muito nervoso para o papel pois considerava que
o Coringa era o vilão definitivo e, por tanto, insubstituível. Mas vê-lo em
tela é uma experiência daquelas únicas do cinema.
Outro personagem interessantíssimo é o de Selina Kyle,
que depois se transforma na mulher-gato. Em momento nenhum, Anne Hathaway nos
deixa com saudades de Michelle Pfeifer, que foi a mulher-gato em “Batman – O Retorno”.
Depois do vexame que foi ver Halle Berry no insuportável filme da felina em
2004, o papel por aqui não poderia estar em mãos melhores. Seu jeito ousado,
carismática e até inocente se encaixa como uma luva para o papel. E apesar de
ela ser ladra e incrivelmente rápida, não ela não é vilã. Vendo esse papel,
vemos o porquê de Hathaway ser uma atriz que anda melhor a cada filme.
Com um vasto elenco, cenas de ação espetaculares e um
roteiro inteligentíssimo, ficamos muito otimistas com o futuro do cinema. As superproduções
podem e devem ter uma história boa, pois é assim que o cinema cresce e esse
tipo de filme gera mais fãs, não só dos apaixonados por ação, mas até dos mais
alternativos. E Christopher Nolan sabe muito bem fazer isso.
Imagens: